segunda-feira, 22 de agosto de 2011
por Carlos A. Ercolin*
A sabedoria popular nos diz que quando defrontado com um perigo o avestruz se protege escondendo sua cabeça em um buraco. Sabedorias populares à parte, o certo é que alguns empresários têm a síndrome do avestruz quando o assunto é risco: fingem não tomarem conhecimento dos possíveis riscos e, com isso, pensam que estão protegidos deles.
Em termos de gestão de riscos não é apenas a ação que produz um efeito: às vezes, uma inação também tem efeito tão desastroso quanto uma ação inadequada. Por exemplo: se todos ao nosso lado se protegem e nada fazemos o efeito é o mesmo que se atraíssemos o perigo. Se todos seus concorrentes fizerem algo e você não, é como se sua empresa se tornasse uma antena em plena tempestade: atrairá todos os raios.
Nesse momento, surgiria a pergunta: então, basta copiar a maioria que a empresa estará segura? A resposta, obviamente, não é tão simples, mas algumas ferramentas podem nos auxiliar a melhor gerir os riscos: construa um gráfico com dois eixos onde o eixo “x” será chamado de probabilidade (de ocorrência de determinado risco). Quanto mais à direita o risco maior probabilidade ele terá de ocorrer. No eixo “y”, colocaremos o impacto (que tal risco, caso ocorra, poderá provocar em nossa organização). Quanto mais para cima se localizar o risco, maior o impacto provocado na organização. Se dividirmos o gráfico em quatro partes – ou quadrantes - teremos que os dois quadrantes “de cima” mostrarão os riscos que terão um impacto maior (só que o quadrante da direita terá uma probabilidade maior); da mesma forma se considerarmos os dois quadrantes da direita, eles terão maior probabilidade de ocorrer, mas o de cima além do maior impacto terá maior probabilidade. Logo, fica claro que este gráfico ajuda a priorizar os riscos, pois de nada adianta nos concentrarmos em tudo (quem tem 50 prioridades na prática não tem prioridades). O quadrante da direita e de cima é o que exige mais atenção, pois além de ter grande probabilidade de acontecer, caso ocorra, provocará forte impacto na empresa; os demais quadrantes - e riscos neles contidos - não deverão ser descartados, mas certamente não serão os prioritários nos planos de ação.
Outra ferramenta muito fácil de construir e usar é o gráfico radar. Desenhe círculos concêntricos. O círculo central poderia ser a sua empresa; nos círculos externos colocamos os riscos mais periféricos (ou ameaças incipientes) e assim por diante: quanto mais próximo ao centro, maior é a ameaça/risco. Claro está que alguns riscos periféricos nunca alcançarão o centro (seja porque deixarão de existir ou por se tornarem obsoletos), mas fazendo esse acompanhamento - movimento dos riscos no gráfico - não teremos surpresas periodicamente.
Mas, e quanto aos riscos inevitáveis? Essas duas ferramentas, dentre outras tantas, ajudam-nos a mapear os riscos/problemas previsíveis/evitáveis. Os não evitáveis, quando mapeados antecipadamente, podem nos preparar para soluções alternativas ou ainda nos alertar para pontos sensíveis de nossa estratégia de gestão de riscos. Lembremo-nos de que um risco não precisa ser eliminado, ele pode ser gerenciado ou diminuído, a depender da relação, custo x benefício. E, neste ponto, não devemos esquecer a máxima: a solução de um problema não pode ser mais cara que as potenciais perdas que ele poderia provocar, sob pena de perdermos ainda mais.
Enfrente seus riscos e incertezas. Lembre-se de que, por definição, o risco é mensurável e, como tal, suas perdas podem ser estimadas. Em vez de fingir que o problema não é seu, assuma seus riscos, mapeando-os e, a partir dessa consciência, uma priorização deve ser feita para, em seguida, elaborar os planos de ação a serem desenhados e implantados. Os planos de ação não servem se não forem implantados e averiguados, de tempos em tempos, pois os riscos não ficam parados: movem-se ao sabor das novas variáveis que se apresentam diuturnamente. Então, comecemos conhecendo nossos riscos e deixando a síndrome do avestruz como coisa do passado. O futuro de sua organização agradece!
* Carlos A. Ercolin é coordenador do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) – Capítulo Paraná.