Diretor ou Conselheiro: quem define os rumos da empresa?

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Bom relacionamento entre os dois órgãos faz com que problemas sejam solucionados de maneira mais criativa.

Por José Ecio Pereira da Costa Junior*

O conselho de administração tem uma missão principal muito clara, a de trabalhar a estratégia da empresa. Quem deve dar o horizonte que a empresa deseja alcançar e monitorar os riscos é o conselho. Já a diretoria executiva cabe a missão de implementar a estratégia definida pelo conselho. Na nossa realidade, a comunicação interativa e efetiva nem sempre acontece, muitas vezes pela falta de iniciativas simples por parte de diretores e membros do conselho. Para demonstrar o quanto é importante o relacionamento harmônico, basta dizer que dele resultam o crescimento, a rentabilidade e a sustentabilidade no longo prazo da organização, sinalizando a adoção de boas práticas de governança corporativa.

Um dos mecanismos mais utilizados nesse processo de interação são as reuniões do conselho, nas quais a diretoria é convidada a participar para apresentar os projetos em andamento.

As mudanças sutis na condução dessas reuniões é que podem fazer a diferença nas relações entre conselho e diretoria. A prestação de contas em termos de resultado financeiro e rentabilidade deve ser sucinta, sem cair nos detalhes e justificativas de cada número. Em contrapartida, a discussão estratégica para o crescimento sustentável deve ser um foco importante deste encontro. Investimentos, aquisições e outros pontos fazem com que o conselho seja o principal interlocutor e, ao mesmo tempo, o implementador da vontade dos acionistas.

Já para as questões específicas de cada área de negócio da empresa é indicada a formação de comitês do conselho. O ideal é que estes comitês já tragam para os encontros os casos aprofundados, estudados e com possíveis soluções. De forma geral, os conselheiros devem integrar no máximo um comitê, que analisa questões das áreas de auditoria, governança, gestão de riscos e tantos outros. A função de membros externos nestes comitês também é estratégica, por contribuir com uma visão mais ampla do mercado e exemplos de fora que podem ser aproveitados.

O relacionamento harmônico entre conselheiros e diretoria executiva é o sonho de qualquer organização, mas na prática os conflitos existem e devem ser mitigados. Dentre os assuntos de atenção estão a discussão do plano plurianual (“business plan”) e a aprovação do orçamento anual. Outro tema é a retenção de talentos. É função primordial do conselho o monitoramento junto à diretoria dos programas de sucessão de todos os cargos até o nível de gerência. O conselho deve se mostrar atuante e classificar o corpo executivo conforme performance e habilidades. Isso faz com que a perenidade da organização se dê sem “solavancos” desnecessários na troca de executivos.

Ao conselho também cabe manter o espírito de equipe sempre motivado, sendo o corpo executivo peça-chave no processo de gestão. Outro fator motivador é a criatividade do sistema de remuneração, idealmente ligado fortemente a metas e baseado na meritocracia. O fato de a pessoa poder adquirir stock options no médio e longo prazo lhe permite sentir que ele é premiado pelo sucesso que ajudou a gerar.

Apesar dos desafios permanentes enfrentados pelos dois órgãos - conselho de administração e diretoria -, o processo de interação influencia positiva e diretamente os resultados da empresa. Além de solucionar problemas de maneira mais criativa, ajuda na tomada de decisões e impulsiona melhores resultados. A boa governança corporativa, afinal, colocada em prática em prol do crescimento e perenidade das organizações.


* coordenador do Capítulo Paraná do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e sócio fundador da JEPereira Consultoria em Gestão de Negócios S /S.