Como os empregados justificam as suas fraudes?

quinta-feira, 10 de março de 2011

A revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios divulgou recentemente uma entrevista bastante interessante sobre as justificativas dos empregados que cometem fraudes, com o professor da Arizona State University, Blake Ashforth, estudioso das disfunções organizacionais. Confira a matéria completa abaixo:

Como os empregados justificam suas fraudes?
Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios.

Com desculpas do tipo “Todo mundo faz isso” ou “Sou mal pago, mesmo”. A corrupção é uma erva daninha que pode destruir uma empresa rapidamente. Tudo começa com as chamadas “comissões”, diz o premiado professor Blake Ashforth

Por Adriana Wilner

A corrupção é um mal que cria rapidamente raízes nas empresas. Funcionários tentam esquecer que estão cometendo atos ilícitos e passam a acreditar que seu comportamento é normal. Uma das principais explicações de como funciona esse processo — e como evitá-lo — está em um premiado artigo, “Business as usual: The acceptance and perpetuation of corruption in organizations”, publicado na Academy of Management Executive pelos pesquisadores Vikas Anand, Blake Ashforth e Mahendra Joshi.

Professor da Arizona State University, Ashforth é um estudioso das disfunções organizacionais. Ph.D. pela Universidade de Toronto e autor de mais de 80 artigos acadêmicos em importantes publicações internacionais, ele detalha, nesta entrevista a Pequenas Empresas & Grandes Negócios, como as fraudes podem se tornar corriqueiras — e a melhor maneira de prevenir que isso aconteça com o seu negócio.

Funcionários que se envolvem em fraudes têm completa noção de estar cometendo um crime?

Sim e não. Inicialmente, eles costumam estar cientes de que suas ações estão erradas, mas as pessoas são incrivelmente versáteis em criar desculpas, mesmo para o mais descarado ato de corrupção. Elas encontram razões para se convencer de que o que estão praticando não é, na verdade, tão ruim, e, na realidade, é normal ou pode até ser positivo. Então, após um tempo, acham natural esse tipo de comportamento e não enxergam isso como particularmente errado. Entretanto, os fraudadores permanecem conscientes de que o mundo exterior desaprovará aquele comportamento e procuram se manter quietos sobre o assunto.

Quais são as desculpas que os empregados usam para justificar seus atos fraudulentos?

Há muitos tipos de discursos: “Todo mundo faz isso”; “é a maneira como o mundo realmente trabalha”; “sempre foi feito assim (então, quem sou eu para mudar?)”; “nossa companhia fecharia se eu não fizesse isso”; “meu chefe me disse para fazê-lo”; “eles (as vítimas) merecem — chegou a hora da vingança”; “É meu direito fazê-lo (a empresa em que trabalho não me paga o bastante)”. Essas racionalizações são usadas para a pessoa se sentir ok sobre seu comportamento corrupto e explicar esse deslize aos outros, se for necessário.

O senhor costuma dizer que a linguagem é importante no desenvolvimento dessas desculpas. Como assim?

As pessoas usam a linguagem para suavizar os fatos duros da corrupção e fazê-los mais aceitáveis. Então, um suborno de um comprador é chamado de “taxa” ou “comissão”. Um exemplo, que não é de fraude corporativa, mas que mostra como a linguagem eufemística pode ser levada ao limite, é o dos médicos nazistas que trabalharam no campo de concentração de Auschwitz. Ao selecionar os prisioneiros que iriam para campos de concentração, eles jamais usavam a palavra “morte”; diziam que era “um procedimento de transporte”. Os doentes eram assassinados antes dos demais com injeções de fenol e os médicos denominavam esse ato de “medicina preventiva”.


“As pessoas usam a linguagem para suavizar os fatos e fazer com que pareçam mais aceitáveis. Assim, fraude pode virar taxa ou comissão. Essa mesma tática foi muito utilizada pelos nazistas em campos de concentração na Segunda Guerra”
Blake Ashforth